Uma verdadeira revolução se avizinha no segmento da construção civil, nas obras de pavimentação e saneamento e até na agricultura, graças a um projeto sancionado na manhã desta segunda-feira pelo governador Ratinho Júnior: o PL 31/2020, de autoria dos deputados Maria Victoria e Hussein Bakri, que dispõe sobre o reaproveitamento das areias descartadas de fundição (ADFs) em outros setores ou produtos.
Tecnicamente, areias descartadas de fundição são aquelas que passaram pelo processo produtivo de fundição na forma de um molde, receberam metal líquido a aproximadamente 1.400°C e passaram pela etapa de desmoldagem. É formada por areia base (sílica), bentonita (argila), pó de carvão mineral e água, que compõem a caixa de moldagem.
Em países como Estados Unidos, Bélgica, França, Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Japão e Austrália, esse material já é utilizado em larga escala na produção de concreto asfáltico, na fabricação de artefatos de concreto, na pavimentação de ruas e estradas, na cobertura diária em aterros sanitários e industriais, na fabricação de telhas, tijolos e outros artigos em cerâmica e no assentamento de tubulações e artefatos para pavimentação.
“Além de proporcionar economia de recursos naturais e financeiros ao Paraná, e de ser ecologicamente correta, a iniciativa ajuda a baratear a cadeia de produção das próprias indústrias de fundição, afetada pelo custo do frete e das altas taxas cobradas para a destinação final dos seus resíduos nos aterros sanitários”, comentou Maria Victoria. “Na outra ponta, a indústria da construção civil é uma grande consumidora desse tipo de material. Ou seja, todo mundo sai ganhando.”
Ela destacou algumas considerações feitas pela doutora em Química Raquel Luísa Pereira Carnin, especialista em gestão de resíduos sólidos, que alicerçaram a criação do projeto: “Se o pavimento com ADF fosse utilizado nos 36 quilômetros da BR-280, por exemplo, haveria uma economia de quase R$ 5,8 milhões na obra. Se o material fosse utilizado em todos os artefatos necessários nessa mesma rodovia, a economia chegaria a quase R$ 8,9 milhões”, ilustrou.
E citou outros exemplos: “Segundo a Companhia de Águas de Joinville, o uso da ADF no assentamento de tubulações pode proporcionar uma economia de até 40% no valor da obra”, informou. Também mencionou a possibilidade de o resíduo ser utilizado como substituinte total ou parcial da sílica pura para vidros e vitrocerâmicos e até na agricultura, no cultivo de hortaliças hidropônicas e no preparo do solo.
A reutilização das areias descartadas de fundição, além de atender à Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, ajuda a reduzir os custos nas obras, oferece uma perspectiva de zero aterro para este material, contribui para reduzir a emissão de dióxido de carbono, ajuda a melhorar a infraestrutura rodoviária e barateia a cadeia produtiva das indústrias de fundição. “Numa tacada só, protegemos o meio ambiente e garantimos um insumo ecologicamente correto à indústria da construção civil, onde há grande demanda. É o verdadeiro ganha-ganha!”, arrematou.